16.1.12

Queria uma Marreta!



Tenho medo de perguntar, mas se você tivesse uma marreta o que faria com ela? Calma...
Sei que pode parecer drástico, mas se eu tivesse uma marreta eu quebraria algumas coisas que acho tremendamente nocivas em nossa sociedade: a rotulação, a discriminação e o preconceito. Brincadeiras à parte, entendo que à medida que nos tornamos mais humanos e mais conscientes do mundo e de suas diferenças, mais rótulos quebramos.  Infelizmente nenhum de nós está livre de ser vítima dessas condutas sociais ou mesmo de praticá-las, mas a conscientização, o conhecimento traz um resgate de nossa humanidade e nos tira desse lugar, nos leva a refletir e a desejar fazer diferente.
Penso que dificilmente alguém passou ileso de algum tipo de rotulação, uns em maior ou em menor grau, mas provavelmente passou, por isso reporto que é um tema bem atual. 
Amados, aqui estou tratando do assunto numa ótica bem micro, no entanto, entendo que se pelo menos no “micro” pudermos mudar algo, já terá valido à pena. Especificamente neste blog nossa fundamentação é primeiramente bíblica, portanto nos espelhamos nos ensinamentos deixados por Jesus para com Ele aprendermos mais um pouco.
Amados, Jesus não rotulava, Jesus quebrava rótulos, paradigmas. Jesus chamava pelo nome, não pelo “rótulo”. Ele chamou Mateus, ele chamou Zaqueu... ele não disse: ô pecador, vem aqui... ele não dizia: ô publicano venha cá! Não! Jesus dignificava, Jesus chamava cada um por seu nome. Ele via além do que era mostrado. Num episódio relatado na Bíblia Jesus come na casa de Mateus junto com muitos publicanos, considerados pecadores (Lucas 5.27-32). Os publicanos eram mal vistos pela sociedade, contudo no texto percebemos que Jesus os viu integralmente, ele não os olhou apenas como transgressores e pecadores, mas como pessoas. Em um outro momento Jesus também comeu com Zaqueu que era outro marginalizado, era o chefe dos publicanos, Ele entrou em sua casa e algo aconteceu nesse encontro, porque depois disso Zaqueu decidiu devolver tudo que havia roubado. E ele o fez espontaneamente. Jesus nada havia falado a esse respeito (leia Lucas 19.1-9), apenas demonstrou amor, aceitação, não dos erros, mas da pessoa, e isso causou nele uma transformação. Em Jesus rótulo nenhum se sustenta.
Amados, a discriminação é acompanhada da ignorância, quanto menos conhecemos de algo, ou de alguém, mais propensos estamos a julgar. Jesus entrou na casa de Mateus, de Zaqueu porque queria conhecê-los de perto, queria ouvi-los, saber deles, ter a sua própria experiência e impressão. Quando convidamos alguém à nossa casa para comer conosco é porque tencionamos conhecer um pouco mais desta pessoa e também queremos ser conhecidos por ela e por isso nos abrimos para tal convivência. Jesus comeu com os publicanos, os conheceu e foi conhecido por eles. Acredito que seja essa a base de toda e qualquer ajuda, de qualquer mudança nossa ou do "outro".
Esses homens, Mateus (Levi), Zaqueu, conhecidos pela sociedade como publicanos, eram marginalizados e pelo texto entendemos que eles deviam sim praticar atos que os levaram a tal imagem, o que claro não justifica, contudo, podemos conjecturar que talvez só precisassem de uma oportunidade, de uma experiência de aceitação, de amor, de um olhar mais amplo sobre eles mesmos para saírem desse lugar. Aqueles homens já estavam tão acomodados à visão que tinham deles mesmos que mantinham àquela vida. Quando Jesus entra em suas vidas, mostra que eles são mais do que vêem, que eles podem mais do que pensam poder, Jesus os chama para segui-lo. Como assim? Jesus chama “pecadores? Sim, chama, pois Jesus os queria tirar daquela condição. Jesus diz algo aos seus discípulos que acho tremendo: “não são os pecadores que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento” (Vs. 31-32). Àqueles que se acham  bons, que se acham prontos não precisam e nunca irão buscar ajuda, mas os que estão nessa condição, e percebem suas necessidades sempre terão Jesus.
No Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa, de Carl Rogers, vemos algo parecido, a empatia. Essa é uma das bases da terapia rogeriana. Empatia é o se colocar no lugar de; é o “como se”. Para Rogers o indivíduo, no caso o cliente, precisa encontrar um ambiente seguro para seu crescimento pessoal e claro que isso, como vimos nos textos acima, é fundamental para a saúde Psicológica. Não temos que concordar com o que as pessoas fazem, mas precisamos aceitá-las e respeitá-las em suas diferenças.
Queridos, os rótulos são como "neuroses de guerra", a guerra passa, mas os estragos que ela causa num combatente tende a se prolongar se não forem tratados. Os rótulos são poderosos e destrutivos. É fácil rotularmos alguém, acentuarmos sua diferença, mas se você já sofreu discriminação dificilmente você fará seu próximo passar por isso, claro, se for algo superado. Caso não, você poderá projetar seu sofrimento no outro, mas essa não é a melhor forma de lidar com o problema. Há uma frase que gosto muito que o Pr Edson Gouveia falava, e que acho adequada ao momento:  “irmãos, não devemos ver as pessoas como um fotografia, mas como um filme”. E é isso, as pessoas mudam, o que faziam em um tempo já não fazem mais. O que tinham em determinado momento já não têm mais, pois estão em constante mudança. A vida é movimento. Quando vemos uma pessoa como uma fotografia, é como se disséssemos que por causa de uma atitude, de um situação, ou de um “problema” ela só pudesse ser vista sobre aquele prisma, que sempre será daquele jeito, ou seja, está estática em nossa visão, nada se altera, com isso a diminuímos como pessoa.
O ser humano é um todo constituído de diferentes partes e suscetível a mudanças e por isso deve ser visto como um filme, um filme tem ação, tem vários cenários, diversificação,  movimento. Assim é o ser humano.
Carregar um rótulo é algo muito pesado. O rótulo discrimina, exclui, e portanto, adoece.  Em minha própria experiência desde cedo tive que lidar com isso e, sabe, dou graças a Deus até por isso, não porque senti prazer em tal experiência, mas porque isso me tornou mais sensível à dor do outro, à necessidade do meu próximo e à valorização do humano. Não falo de um pedestal, pois sou gente, sei bem o que é o preconceito, mas louvo a Deus “porque tudo coopera para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Aleluia!  
Acredito que todos nós precisamos em algum momento vivenciar algum tipo de preconceito para entender o que é estar do outro lado, o que é ser olhado com prevenção, com suspeitas. Infelizmente às vezes só podemos compreender desta forma.  Numa dinâmica que fizemos, quando eu ainda estava fazendo Psicologia, em uma das aulas de dinâmica de grupo, foi nos pedido que colássemos uma faixa  na testa de cada colega, com algum tipo de rótulo escrito, e depois que andássemos pela sala com aquilo, lembro como foi interessante, e ao mesmo tempo difícil. Como aquilo que estava pregado em nossa testa ressaltava e induzia o comportamento do outro a nosso respeito. Carregar algo e ser olhado somente de uma forma é muito pesado. Tendemos a tratar as pessoas conforme as vemos,  e como as interpretamos, e isso muitas vezes não nos permiti conhecer de fato quem é esta pessoa que está à nossa frente. Julgamos, agimos, fazemos, e nos relacionamos baseados no que vemos ou no que nos é falado de tal pessoa e perdemos a oportunidade de entrar em contato com o ser humano em sua inteireza, em sua diversidade e diferenças.
Em suma, ser aceito, amado é indispensável para a saúde Psíquica. Todos corremos atrás disso, é natural. O pertencer é uma necessidade social. Na abordagem que sigo como Psicóloga, vemos o indivíduo para além de patologias, de diagnósticos, de sintomatologias. Embora seja necessário sabermos e identificarmos as demandas que chegam, não podemos parar apenas no que é visível, temos que conhecer o universo que circunda o indivíduo para compreendê-lo e assim proporcionar alguma ajuda efetiva e vejo como isso gera saúde.
Amados é tempo de sairmos da teoria, da falácia... é tempo de sermos crentes, de sermos como Jesus, pois Ele olhava cada pessoa independente de sua classe, cor, fé, ele os via em suas potencialidades, ele abria seu coração para amá-los, ele os respeitava, os tratava com dignidade e isso proporcionava mudanças reais nos que o seguiam. A base era o amor, sempre foi o amor e ainda é o amor, e sempre será o amor.
As igrejas precisam retomar esse amor, precisam urgentemente sair do conforto de seus templos para as casas dos publicanos, para a casa dos doentes, dos que precisam, precisam derramar amor.
Convido você hoje a refletir sobre isso e a se deixar ser inundado pelo amor de Jesus. Jesus o ama profundamente, não importa se você tem vivido até hoje debaixo do engano, debaixo de um rótulo, mas importa, sim, que você o permita entrar em sua casa, em sua vida, e isso sim fará diferença.
Portanto, dê oportunidade para o outro ser ele em sua totalidade. Exercite-se nisso,  coloque-se no lugar do  que sofre e aí você poderá crescer e proporcionar crescimento ao seu próximo. Amém?
Agora, peço que pegue sua marreta, ou seja, tudo que você já sabe e use para quebrar esses comportamentos sociais indesejáveis e adoecidos. E o que você não sabe, buque saber, busque conviver, aprender... quebre hoje os preconceitos que tem, os rótulos que usa para denominar alguém e comece a quebrá-los, faça isso hoje, agora. 
Oração - Senhor, entra hoje na casa dos “Levis”, dos “Zaqueus”, das “Marias Madalenas”, das “samaritanas”, dos doentes de alma, dos que precisam de ti, hoje, e sei que algo maravilhoso vai acontecer. Toca meus amados nesta hora, que os seus corações cansados e exaustos de carregar por tanto tempo rótulos, preconceitos dos de perto e dos de longe, sejam aliviados de tal jugo, “porque teu jugo é suave e o teu fardo é leve”. Restaura a dignidade dos teus filhos, a fé, a força de cada um, sara-os, em nome de Jesus!

No amor de Cristo, Ara

Um comentário:

  1. Ara Brandes.

    Suas postagens são de grande edificação! Você consegue aliar a leveza da escrita ao grande valor do seu conteúdo. Dá prazer acompanhar o seu trabalho. Parabéns! Grande Abraço !

    Pr Etewaldo

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