O Desafio do Contato

No post anterior começamos falar sobre o valor da interação, do “contato”. E achei interessante esclarecer um pouco mais sobre o assunto, baseando-me na própria vivência de Cristo.
Acredito, amados, que este é um tema de muita relevância para nossa saúde como um todo. Portanto, exercite seu contato, leia, reflita, introjete o que for bom e compartilhe se achar interessante. Confira também a postagem anterior, http://arabrandes-restaurando.blogspot.com/2011/11/viva-o-que-esta-sua-frente.html para compreender melhor o conceito.

Olhando para a vida de Cristo, percebo como ele era contextualizado com seu mundo, sua missão, sua identidade, suas relações, enfim, seu contato era pleno. Se estava com os discípulos, de fato estava, ouvia os seus conflitos, olhava em seus olhos, estava “perto”, percebia suas necessidades tanto físicas, como espirituais e as supria, não só porque era Jesus, mas porque estava “ali” inteiro, presente como humano. Se com a multidão tinha um contato real, presente, era sensível (não ignorava as pessoas que o seguiam, que o tocavam); se com os religiosos de seu tempo, percebia suas “falhas”, confrontava seus enganos, distorções, mas também, como judeu seguia suas práticas de fé de acordo com sua época e com a sua crença. Jesus quebrava paradigmas, introduzia novos conceitos porque não era um alienado de seu tempo, era próximo, atualizado, vivia, sentia, era, estava. Era ouvido e respeitado pela sociedade, mesmo que não apreciado “não era do mundo, mas estava no mundo, conhecia o “mundo”. Se estava com o Pai, seu contato era intenso, íntimo, real, diário. Se apenas com uma pessoa específica, ele se voltava para ela, ouvia, questionava, sentia o “contato daquele encontro, como no caso de Zaqueu, da Samaritana, do cego de Jericó, da mulher com fluxo de sangue. Jesus era puro “contato”.

Analise sua qualidade de presença, de contato:

Quando você está a sós com você, você de fato, fica inteiro? 
Você entra em contato com suas frustrações, reações, deficiências, qualidades, necessidades, e sentimentos?

Ao ir a um encontro de amigos, você de fato vive este encontro, olha e vê realmente as pessoas que estão ali?
E além de ver, percebe as necessidades a sua volta?
E além de perceber tem uma atitude pró-ativa?

Ao tirar férias, fazer uma viagem, você de fato desfruta do ambiente, da cultura, das pessoas, de novos sabores, descobertas, curiosidades, diferenças? 

Você se abre para novas experiências saudáveis?

E no seu trabalho, escola, faculdade, você está ali interagindo, vivendo as diferenças, as alegrias, as frustrações, envolvendo-se, ou está ali porque é apenas uma necessidade?

Você tem um relacionamento com Cristo, a ponto de viver pelos seus ensinos, ou apenas cumpre ritos aprendidos mecanicamente?

Quando você vai a um congresso, ou a uma palestra, você é ensinável, entrega-se? Ou a crítica bloqueia seu contato, sua presentificação?

Quando está em oração, você se rende e abre-se para Deus?

Quando adora o faz inteiro, presente?

Você tem contato com a sua missão como seguidor de Jesus ou tem evitado?

Dependendo de suas respostas você mesmo pode identificar suas resistências, formas de evitação do "contato", bloqueios que criou para se isolar, e afastar-se de si ou da vida, das pessoas, de Deus. Mas, creio que esses impedimentos produzidos para sua própria autodefesa podem ser quebrados se você se conscientizar deles, isso lhe permitirá desfrutar de uma vida melhor. Sei o quanto as defesas são importantes, mas também sei que podem ser substituídas por algo mais funcional. Jesus nos ensinou que é possível vivermos uma vida saudável.

O "contato" é um conceito muito mais amplo, estou simplificando apenas para conseguir passar para vocês a ideia. O contato implica em vivermos no presente, e entendo que é primordial e fundamental, como Jesus, vivermos o “aqui-agora”, reconstruirmos o contato quebrado, abrirmos nossos olhos e enxergarmos o que está à nossa frente; precisamos ativar as nossas sensações adormecidas para com os outros e até para com nós mesmos.
Por exemplo, avalie-se neste agora e responda: o que você está sentindo neste exato momento?
O que você faz com o que acabou de perceber ao ler esse texto? 
O contato passa pelos nossos sentidos, sensações, percepções, reações.

Amados, sei que o nosso alvo como cristãos é a eternidade, mas só faremos diferença nesta terra se entrarmos em contato com o que nos cerca, com as pessoas, com a nossa realidade, com quem somos e com quem desejamos ser. Lembro de um trecho de uma música do Legião Urbana que é muito verdadeiro: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar prá pensar, na verdade, não há"(...).

Amados, Jesus trouxe mudanças efetivas em seu tempo porque tinha “Contato”, estava inteiro, vivia no presente, era verdadeiro. Jesus é a verdade. Contato exige de nós verdade. Às vezes nossa reação pode não ser a mais adequada, mas deve ser a mais autêntica possível.

Quero lhe perguntar: você tem contato com o que gosta, com suas vontades? E na convivência com o outro  isso aparece, ou é evitado e ignorado por você mesmo?

Quando eu estava há alguns anos atrás no começo do processo do meu autoconhecimento, lembro que um dos aspectos que trabalhei foi este: descobrir e verbalizar o que eu desejava. Quando eu saía para um restaurante, era uma confusão porque eu estava tentado estabelecer minha vontade, e muitas vezes eu desistia de pagar o preço por ela, ficava indecisa e insegura quanto ao que queria comer, aonde desejava ir, de verdade, e arriscar fazer o que queria era para mim ainda mais difícil. Não estava acostumada a me responsabilizar pelo que queria... e se o lugar não fosse bom?  Algo dentro de mim desejava ser, e lutar. Eu queria usufruir das minhas escolhas, então tive que encarar as consequências também. Posso dizer para você que vale à pena assumir-se como pessoa. Pessoa pensa, deseja, não deseja, tem seu gosto, seu olhar único para as coisas, tem responsabilidades e se posicionar diante da vida, das relações e de suas escolhas. 

 

Viver o hoje consciente dele. é portanto, o grande desafio! 

Se você está visitando alguém, um familiar, um amigo, treine-se para estar ali, não fique pensando no que estaria fazendo em outro lugar, não fique preso no que fará daqui a pouco, no trabalho de amanhã, experimente viver na plenitude do tempo, ouça os que as pessoas estão falando, contribua, ria, aprenda, ensine, fale, abra-se a novos paladares, confronte, reflita, brinque, posicione-se no convívio, interaja, perceba-se nessa interação. Há muita riqueza nos encontros, Jesus sabia disso. Ele tanto enriquecia os que encontrava no seu percurso, como saía enriquecido. Porém se você não estiver inteiro, vai sair e nem vai perceber o que aconteceu, o que perdeu. A probabilidade é de ter perdido muito!

Claro que em tudo, como cristãos, buscamos ser como o nosso Senhor, tudo isso que falei acima, deve e precisa passar pela Palavra, mas é fato que Jesus não era alienado de si, do mundo, do Pai, ele vivia “cada dia”, desfrutava de cada situação, boa ou não, lidava com as perseguições, rejeições da forma como cria, confrontava o pecado, mas amava o “pecador”. Ele tinha contato.

Termino com este texto, pois esse texto mostra o que o amado Jesus fez só para ter contato pleno conosco:

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma e homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra...”  Filipenses 2:5-10

Oração: Senhor se há algo que precisamos é de sermos restaurados na nossa humanidade, no nosso contato conosco, com as pessoas, com a vida, com o mundo, crenças, valores, não quereres, ideais, sofrimento, frustrações, mudanças, necessidades, fraquezas... Peço-te, ajude-nos a entrarmos em contato com essas coisas que perdemos. Restabeleça a nossa saúde como humanos e fiéis seguidores do evangelho das boas novas! Que caiam os títulos, as formas, as máscaras, as resistências, a religiosidade, o preconceito, as neuroses e que a verdade, a tua verdade em nós, em quem somos, apareça e consigamos viver o que está à nossa frente. Em nome de Jesus! Amém?

Por Ara Brandes, no amor do Senhor, em, 26.11.2011