A DOR DO TRAUMA

Cacos falam

Meu coração despedaçou...

É, já se passaram muitos anos...

Meu coração quebrou.

desde então junto meu cacos...

São tão feios, disformes...

Busco novo sentido, não há!

Vem Ele, e me ajuda a juntar,

aos poucos,
um a um - eu e ele -...

A montagem, colagem, tudo...

ordena os espaços, as cores, as dores, as lágrimas...

Suas mãos me dão medo,
Vai me ferir também, será?
A pele teme toque, teme sentir e sangrar...

De novo as lembranças gritam...

medo de doer igual e do mesmo jeito...

ai ai ai ai ai...
não não não não

Tô faltando, tô quebrando!

Angústia, desespero, impotência...

dor.
Quando vai cessar?

Quebrou. Nunca mais o sentirei bater...

saudade... dor da saudade...

saudade dele, do meu coração intacto, inocente, crédulo, puro...

Ele se irá para sempre, preciso me despedir, vou me despedir,
nunca mais será o mesmo, nunca mais, amadureceu.

Vá vá vá vá...

Adeus adeus adeus adeus...

ai ai ai ai...

Vi chegando o oleiro...       esperança! 

Onde estão os meus cacos de mim?
Por um momento, até isso se me perdeu...
onde estão os meus cacos?
onde estão minhas dores?
onde eles foram parar?
onde estão os meus ais?
Sumiram, foram-se com Ele...
Não vejo mais cacos...

Só espanto, e surpresa!!!
Olho para mim e sinto pulsar...

É um coração?
Vejo um coração?

Sim, meu coração.

Esplêndido, novo, forte...

Os cacos viraram arte,
viraram eu eu eu eu eu.

Sou arte nascida de ferida,

sou vazio preenchido de paz.

Sou um belo mosaico de histórias de ais

Sou eco de um passado pleno, pulsando agora em novo ritmo, nova batida, nova vida...

Esse coração precisará aprender a viver, a sorrir, a amar, a sentir, a crer, e a se entregar novamente... (de Ara BRANDES)

Se um trauma falasse acho que expressaria mais ou menos isso, talvez você se identifique, talvez não, o que quero com isso é te apontar esperança, existe vida pós trauma, escolha viver.
Como podemos definir o trauma? Bem,o trauma pode ser compreendido como um dano emocional decorrente de algum acontecimento doloroso, abusivo, violento (Dicionário on line). 

Particularmente, conceituo trauma como ferida existencial, fechada ou aberta, como lesão emocional oriunda de cargas excessivas de dor, de sofrimento extenuante, sem aparente alívio, e sem estrutura adequada de suporte.
Quanto mais cedo se vive um trauma, menos estrutura e recursos se tem para lidar com ele. O trauma tende a nos acompanhar na vida adulta se não for tratado adequadamente. Um indivíduo que é exposto a uma situação violenta, agressora, sistemática ou não, possivelmente carregará consigo também uma memória traumática, que se expressará em  imagens, emoções dos acontecimentos vividos, e que em situações similares podem ser atualizadas e sentidas como reais, mesmo depois de tal experiência já não existir. Tais memórias podem provocar no indivíduo traumatizado comportamentos de esquiva, isolamento dificuldade de concentração, confusão mental, diminuição da percepção, pensamentos intrusos, pesadelos, ansiedade, alterações de humor, alterações cardiovasculares, fadiga, culpa, desamparo, estado vigil, hiperatividade, insônia perda de energia sexual, angústia, tristeza, desespero, compulsões, somatizações, desconfortos gástricos, etc...

O trauma mesmo depois de tratado é como uma cicatriz no corpo, basta a ameça de se ser machucado, tocado, já se sofre a dor, irritabilidade, o medo, medo de sofrer a mesma coisa. O trauma é um morto que sempre quer ressuscitar, nunca se cansa de tentar, é assim que o percebo em minha própria experiência.

Uma pessoa que sofreu traumas precisa ser tratada, tanto no sintoma estressor, como na sua totalidade, no seu significado de existir e vivenciar suas experiências de fracassos, frustrações, perdas, limites. Um trauma precisa ser cuidado, jamais ignorado, pois seus danos podem disfuncionalizar uma pessoa, e causar ainda mais sofrimentos. Em terapia é importante que o paciente, sob cuidados e respeito, reviva a cena traumática, para resignificá-la e também desbloquear sua energia, sua força psicológica presa na experiência sofrida.

Em minha vida tive alguns, todos ligados a vivência de perdas, abandono, enfim, e por vezes o percebo ameaçador, forte, como se o tivesse vivido ontem, mas me dou conta de que é só uma memória, e não uma verdade, e é nesse confronto passado presente, mentira, verdade, que aprendi a acalmar essa ferida. E por isso, se servir para você que acompanha o blog, faça o mesmo, cuide-se, trate o trauma, e lembre-se quando a ameça voltar, que ela não é a verdade, é apenas uma memória doída, acolha-a e siga. A dor sempre passa, um novo dia sempre nasce. Mantenha a esperança viva em seu coração! Cerque-se do amor das pessoas, do amor de Deus, e sua cicatriz se tornará sua força, sua pregação.

Deus te abençoe!

No amor de Cristo, Ara Brandes