Introdução
Era um dia nada comum, eu sentia.
Sensações, perfumes, vislumbres de uma nova estação. Um sol nascia dentro de
mim, uma esperança brilhava, expectativas de que tudo seria diferente.
Borbulhava no meu espírito, nos últimos dias, uma grande sede, imensa sede por
conhecer a Deus, não de “ouvir falar”, isso eu já conhecia desde criança,
nascida em campo missionário, crescida dentro de Igreja Batista, bem ambientada
no campo religioso, na vida eclesiástica, o que também foi muito bom. No
entanto, confesso que vinha me sentindo cansada de viver uma fé teórica, um
Deus distante, pregado, mas não conhecido. Eu queimava por algo novo, eu queria
conhecê-lo, queria andar com Ele. Podia sentir o Espírito Santo me guiando a
novas veredas, a veredas de avivamento, e eu o segui.
Minha mudança começou um ano depois da
perda de Amanda no 2º congresso do Diante do Trono, onde fui batizada com o
Espírito Santo e de uma forma extraordinária fui tocada para sempre. Palavras
foram liberadas, curas começaram a acontecer, e a glória de Deus, se tornou um
marco em minha vida.
E foi dentro desta nova jornada com
Espírito Santo que aprendi a me encontrar com o Amado da minha alma, a
cultivar a sua presença, e trazer o céu para a terra.
E nesse dia, na hora esperada, "no
meu jardim", com Ele, no meu cantinho de adoração, separada para o
encontro, ali, só Ele e eu, as vezes sem palavras, outras vezes, muitas
palavras, contudo, sempre um momento único, cheio de vida, de cor, de direções,
de cura. Aquietei-me em meu cantinho de adoração, era um cantinho simples, ao
lado da minha cama, quarto pequeno, mas foi nesse lugar, com a minha Bíblia,
com um dos meus cadernos de capa dura de cor azul e com minha mantinha
azul, já surrada dos anos, no chão de cerâmica fria, mas aquecida pela presença
do amado Espírito Santo, que busquei o Senhor mais uma vez. Sentia uma leve
brasa sobre os meus pés, e aos poucos ela ia se espalhando, e eu já sabia,
sinais de sua santa presença.
Ah, como era a boa a sensação, ouvi-lo ao
som de músicas do céu que sempre embalavam nosso encontro, comunhão... "seu
amor é extravagante, sua amizade, tão íntima, sendo levado por tua graça estou
e sua fragrância é embriagante quando contigo estou" (David Quinlan)
ali, Ele, eu. Que tamanha glória vinha quando Ele chegava. Lembrava-me
do encontro de Adão e Eva na viração do dia com Ele, como seria tal plenitude
com Deus?
Bem, com tudo preparado, prostrei-me
diante Dele, e comecei a adorá-lo com palavras, exaltá-lo, e a cantar suas
maravilhas, era surpreendente.
Desde que segui neste caminho, comecei a
sentir a sua presença, a reconhecer a sua voz, e aprendi a discernir suas
direções para mim. E ali estava eu, diante de um tempo de cura profunda, e mais
uma vez Ele queria tocar nas minhas feridas de alma. Isso não me assustava, eu
confiava nEle. Um choro brotava tão forte de dentro de mim, como que limpando a
minha alma de dores antigas, rejeições, abuso moral, amargura, tudo vinha à
tona. Lembranças de dias difíceis, dias, anos em que tive que ser forte, mesmo ainda tão imatura, tão jovem, infante, tive que dar conta, gerenciar as
faltas, inconstâncias, separações, preconceitos, sentimentos de impotência,
estigmas, quanta coisa para Deus tratar dentro de mim, quanta cura para
acontecer. Tudo isso vinha nestes
momentos com o meu Amado. Ah, minha alma sangrava. Doía-me, era cirúrgico,
preciso. O filme precisava passar, lagrimas e lágrimas derramadas, colhidas...
nessas tristes memórias vi meu filho adoecer, meus sonhos de família
"perfeita" desabarem, já nos primeiros dias de nascimento do meu
Yuri, tão amado e desejado. Vê-lo nascer forte, saudável e logo após temer
perdê-lo para uma meningite, encontrá-lo desfigurado numa UTI, e vê-lo sair de
lá com séquelas permanentes, (até agora). Yuri é um guerreiro admirável, um
príncipe, um exemplo... mas, para mim naquele momento, e naquele
tempo, sem dúvida, foi um rombo, fui ferida como mãe, ferida pelas limitações
de ver o sofrimento do meu filho, e ferida pelas idealizações de uma
maternidade frustrada, foi assim. O grande desafio neste aspecto para mim foi,
encontrar alegria nas pequenas coisas com meu filho, nos pequenos progressos,
celebrar um dia sem crise epilética, celebrar o dia em que ele aprendeu a
sentar sozinho em seus 8/9 meses, ah enfim, tive e tenho tanto a celebrar,
curas, milagres (temas que abordarei em outro momento no: "YURI ALVO DA
GLORIA DE DEUS")... ver Deus no dia a dia provendo força, esperança, e
amor incondicional. Vê e aceitar a beleza incomum do diferente., do inesperado,
e quanta beleza há, quanto descobri. Muitos aprendizados, incontáveis. Com
certeza vivo muito do sobrenatural com meu filho.
Dores, dores, será punição, maldição? Eram os comentários dos religiosos. Não que não fosse também, creio em
heranças espirituais sim, mas não era a ocasião desse tipo de expressão, ainda
mais sem uma ajuda espiritual pertinente. Contudo, acredito na
Soberania de Deus, isso sempre foi o que vi na minha vida, sempre entendi no
meu espírito que um dia isso iria se revelar num sentido, porque Deus está acima
de todas as coisas. Então, se não bastasse a dor de ver o futuro do meu filho
se esvaindo, e o nosso também, ter que lidar com o julgamento dos
próximos, de irmãos, era penoso, doía mesmo. Poucas foram as mãos de
apoio, de suporte, mas Deus as enviou. (E antes de qualquer coisa, por favor
não fiquem com pena, dó, não cabe. Só
sou a "Ara" que sou porque essas vivências me forjaram e me
enriqueceram como pessoa, não mudaria minha história porque não gostaria de
mudar quem eu sou, gosto do que me tornei).
Dez anos depois, já depois de superada
toda a situação Yuri, uma esperança, uma nova gravidez, era “Amanda”! Alegria
que durou apenas 6 meses, logo ela se foi, sem porquês. Dor, mais dor, chorada,
vivida, curada. E outras experiências de guerra, de
fé, que vivo atualmente, mas que em um outro momento poderei contar, mas
como testemunho vivo do amor de Deus.Vivo com o que tenho, vivo o aqui e o
agora. Como será o meu futuro? Ah não sei, estou em Deus, só Ele tem o meu
futuro, e Ele já está lá, então vai ficar tudo bem, Ele é o ômega da minha vida.
E foi assim como um túnel do
tempo, nesse dia nada comum, no meu cantinho de adoração que tudo começou a ganhar novo sentido. Ali perdoei os meus
ofensores, pedi perdão pelas minhas culpas, pois Ele me mostrava a minha dor,
“fazia a ferida e a ligava”. Chorando em seu colo recebia o conforto de suas
palavras, e Ele me dizia: Filha, você é preciosa, escolhida, eu te amei, e eu
te amo, assim, como você é. Fui eu que te fiz. E te fiz de “um modo
maravilhoso”. Eu vou te curar, siga meu Espírito. Tudo que te feriu eu usarei
no meu reino. Toda a tua vergonha, dor, rejeição, eu transformarei em canais de
amor, de bençãos para espalhar esperança para um povo. Você é uma
carregadora de esperança. Há um poço de Água viva dentro de você, carregue essa
Água.
Ah, que palavras doces se contrastavam com
os meus sentimentos de abandono, de desamor, de não merecimento. Que impactante
e curativas eram essas palavras, era Ele, restaurando-me, e enchendo-me de
vida, de esperança. Era sempre tão amável, podia sentir seu amor por mim,
afirmava-me, dizia-me coisas que jamais ouvi de alguém, eu ficava maravilhada
com a sua beleza, santidade, cuidado e prontidão em me curar, ainda fico. Sua
voz é inconfundível, seu amor incomparável.
Como um bálsamo, meu coração por tanto
tempo inquieto, vazio, cansado, magoado, doído, recebeu um novo toque, um novo
barro, um novo sopro, uma nova vida. Cura, consolação!!! Cessaram-se as guerras
mais fortes, a ESPERANÇA entrou JUBILOSA, TRIUNFANTE, VIVA, FORTE, LUMINOSA e
nunca mais se foi. “Cristo em vós esperança da glória”.
Um novo sentido de existência recebi
naquele mesmo instante, porque a minha dor se transformou em cura, e em missão.
A partir daquele dia, nada comum, tornei-me uma carregadora de esperança! Para
cada vivência sofrida um toque do Eterno, para cada ferida fechada uma mensagem
pregada, levando o autor da esperança, Jesus!
"Bendito seja o Deus e Pai de nosso
senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda Consolação, que nos
consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que
estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos
consolados por Deus" 2 Cor 1.3-4
Continua...
Parte III
Pensei: é, mas um dia nasceu, o que será
que carregarei e a quem? Perguntei ao Senhor. Logo o celular me notifica que
alguém me chama. Ao ler a mensagem, em apenas uma frase, pude entender que
havia ali alguém esvaziado de esperança, sedento por um palavra, um motivo, um
toque de vida.
Meu coração se ascendeu no espírito e
movida de compaixão li e vi a necessidade daquela pessoa como o Senhor a vê...
No amor de Cristo, ARA
Ai irmã...Que lindo! Que inspirador! Glória a Deus pelo modo maravilhoso que Ele fez você!
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