Como ver a vida para além da ferida emocional?
Dor que dói
Choro que não cessa de escorrer por dentro...
Será?
Será que mais uma vez vou doer, vou sentir, vou perder...
o Chão..
o ar..
o ser...
Será que mais uma vez vou viver um outro adeus...
Velado?
Rasgado?
Por que se vão?
Por que não posso viver o junto, o perto?
Dor que dói...
Choro que se aprisionou...
Desespero que bate...
Abandono é dor que não passa, é dor que acorda com o sol,
e não dorme com a noite...(de Ara Brandes)
Queridos essa é a dor de muitas pessoas. Uma dor que posso chamar de dor da orfandade, dor desestruturante, dor de não se ter para onde ir; de não se ter lugar seguro, amor seguro, e aceitação de se ser gente, pessoa.
São muitas as histórias dessa natureza, e independente de como o abandono aconteceu, o impacto dele na vida de uma pessoa não passa desapercebido, ele fere, ele dessensibiliza, ele transforma, ele amadurece e endurece.
O abandono carrega uma mensagem de rejeição, de desamor, de desvalor por quem somos e pertencemos.
Muitos sofreram o abandono na primeira infância por um dos pais, ou por ambos, intencionais ou não; outros viveram a perda de um dos entes queridos numa morte prematura, ou viveram o distanciamento, a ausência de um dos pais devido a um divórcio e novo casamento. E ainda, e bem atual, é o sofrimento causado pela orfandade de pais vivos, o que podemos chamar de "abandono afetivo", que não se trata aqui do termo jurídico, mas me utilizo dele para explicar que também existe esse tipo de abandono. Esse abandono se dá de várias formas, sendo uma delas a indiferença, o não cuidado, o desprezo, a falta de qualidade da presença, mesmo com pais ditos presentes, mas emocionalmente ausentes, vive-se a ausência de afeto, de cuidados básicos, de suporte emocional, financeiro, entre outros. Aqui vale citar uma frase bem divulgada na mídia que sintetiza essa questão: "Amar é faculdade, cuidar é dever" ( Ministra Nancy Andrighi).
O abandono é uma dor muitas vezes revivida na vida adulta, no distanciamento inexplicável de um suposto amigo, ou na partida de um parceiro que se vai sem avisos, sem justificativas, sem porquês ditos.
Dimensionar tal dor é difícil, mas podemos identificá-la, pois é uma dor que está sempre ligada ao medo da perda de alguém estimado, e a uma frenética busca de garantias de afeto, e aceitação de si, nesse último costuma-se investir alto, chegando muitas vezes a uma autoagressão, tudo numa busca desenfreada por se obter o amor. Daqui, dessa ferida emocional, originam-se alguns comportamentos e defesas disfuncionais, adoecidas, como a negação de si, carências, baixa auto estima, dependência emocional,vitimização, transtornos de personalidade e etc.
E o pano de fundo de tudo isso, são necessidades vitais do indivíduo que foram relegadas, como segurança. afeto, respeito, valor, ser amado.
O abandono deixa suas cicatrizes, alguém que sofreu qualquer tipo de abandono, sempre estará em busca de um desses elementos faltantes, citados acima.
Toda vez que alguém, marcado por uma história de abandono se vê diante de algo que ameaça sua segurança, seu valor, automaticamente sua homeostase é abalada, e pode desencadear algum tipo de defesa, ajuste, ou até crises. Vale ressaltar que a crise é uma forma de regulação, nem sempre adequada ou funcional, mas sempre tem uma função, um sentido, no caso específico, pode ser visto como um grito por socorro, por amor, por colo, por segurança. É comum nas fantasias de viver um novo abandono o indivíduo regredir, como que voltando à cena primária desse vivido, mesmo que inconsciente. Leia-se, contudo, que nem sempre se trata de um abandono real, mas essa é uma leitura do indivíduo sobre possíveis distanciamentos, limites, escolhas do outro, mudanças. Medos que giram em torno do imaginário, de gestaten abertas, e de abandonos nunca explicados. É nesse momento que cabe uma nova configuração, e resignificação dos eventos, percepcões, comportamentos, e das relações.
A grande diferença e talvez a mais importante na ajuda de alguém nessa situação é mostrar-lhe o seu presente, sua força. Conscientizá-lo de que aquela criança que um dia foi "abandonada" já não é mais aquela criança, ela ainda está ferida, mas cresceu, tem novos recursos, pode lutar, pode escolher, pode agregar novas pessoas, pode amar e ser amada, pode selecionar também àqueles com que deseja se relacionar. E é muito provável que no presente a história já tenha mudado, que o indivíduo já seja amado, e tenha pessoas que o amam ao seu lado por escolha. É possível que o cenário tenha se alterado, que tenha se tornado um guerreiro, um sobrevivente, um vencedor, contudo, só em terapia isso é apontado, diferenciado e reconstruído, e onde o indivíduo se empodera de si, da verdade do hoje, e de suas possibilidades.
Se você teve, ou ainda vivencia uma ferida de abandono, busque ajuda, permita-se uma nova chance de ser amado por outros, resignifique suas relações, preocupe-se em valorizar os que o amam, desapegue-se de quem não lhe valoriza, e siga em frente.
Seu valor meu querido transcende a sua história, você tem valor por quem você é, e como você é. Não se altere para ser aceito, nem amado, faça mudanças por você. E lembre-se sempre, Deus te ama incondicionalmente.
"Porque se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá". Sl 27.10
Por Ara Brandes
Lindo poema, irmã! Cura para um coração amargurado e esperança para um coração ferido!!! Que Deus te abençoe sempre é que muitos sej as m edificados , curados e sejam cheios de esperança por estas palavras!
ResponderExcluir